“Os seus filhos não tem que vir de você, eles tem que passar por você”.

“Os seus filhos não tem que vir de você, eles tem que passar por você”. Ao ouvir esta frase no filme Beleza Oculta logo me reportei a um fato que marcou a minha vida. Eu e Raquel casamos em Janeiro de 2001 e não pensávamos em ter filhos por enquanto, tinha Faculdade, casa e um período de lua de mel que todo casal quer.

Mas às vezes nossos filhos já nasceram e nem nos damos conta disso.

Raquel adquiriu transtorno de ansiedade um pouco depois do nosso casamento e foi uma batalha por um longo tempo, mas foi aí o início de tudo.

Com a saúde abalada e sem entender muito bem o que era, buscou ajuda com nosso saudoso Padre Quinha que a escutava e a carregava para os lugares mais loucos na intenção de ajudá-la. Lembro que certa vez ele me disse : “Você tem quer ser rocha, porque Deus vai tirar algo de bom dessa situação” e não é que ele estava profetizando.

Em uma dessas conversas perguntou se ela conhecia o orfanato Nossa Senhora das Graças, em Correas e a aconselhou ir conhecer.

Já era Dezembro e no Natal as crianças iam passar as festas de fim de ano com os padrinhos e a diretora do orfanato perguntou se queríamos levar um menino que tinha acabado de chegar e se não pudéssemos ela o levaria, pois só restava ele. De imediato nos prontificamos e assim foi feito, queríamos ajudar de alguma forma. A princípio levamos um susto quando apareceu aquele menino que quase não ficava em pé e vinha de um longo período de desnutrição.

Pois bem, a profecia do Padre Quinha começava a se realizar. Passamos um Natal maravilhoso, mas tínhamos que levá-lo de volta para o orfanato. E não era a nossa intenção pegá-lo  com frequência . Mas após o réveillon decidimos voltar ao orfanato e buscar aquele menininho que nos cativou e mais uma vez levamos para passar o fim de semana com a gente. E foram vários fins de semana. E cada vez que deixava ele de volta, um pedaço de nós ficava naquele lugar. Não me esqueço da imagem dele em frente a porta do orfanato dando adeus para nós. E isso começou a nos incomodar.

Costumo falar que tivemos uma gestação até decidirmos adotá-lo, pois não dava mais para ficar levando ele de volta, ou a gente o levava para ficar ou não voltaríamos mais no orfanato para buscá-lo com frequência. E assim foi feito, após conversarmos com ele e ver que era seu desejo também ficar conosco, no Natal de 2002 levamos nosso filho para casa. A princípio um susto para muita gente, mas muitos anjos nos ajudaram também.

Sabíamos que não seria fácil pois éramos um casal jovem que a principio poderíamos engravidar e o fato de adotarmos uma criança negra, com idade avançada e que vinha com uma bagagem de vida desconhecida, de certa forma incomodou as pessoas. Mas não víamos por esse lado, era nosso filho e da mesma forma que os filhos biológicos nascem sem sabermos o que esperar deles, assim foi com o Wallace.

Alguns anos mais tarde após um período de adaptação decidimos dar um irmãozinho para ele e foram longos meses de ansiedade e espera, até que uma noite ele colocou a mão no ventre da Raquel e disse: “Mãe, eu te abençoo” e assim Alice foi concebida.

Uma gestação em meio a audiências estressantes para a guarda definitiva , pois ainda pairava o medo de perdê-lo.

Recordo-me de uma das audiências em que Raquel chorou muito e sua pressão alterou e com isso ao mesmo tempo a angústia de perder nossos filhos, uma que estava na barriga e outro no coração.

Mas graças a Deus tudo deu certo, este ano o Wallace completou 20 anos de vida e 14 anos conosco e a nossa pequena completou 10 anos.

A verdade é que nosso filho já havia nascido só faltava a gente se encontrar. Não escolhemos sexo, raça ou idade, nós escolhemos amar.  Muitos detalhes dessa história de amor não tem como escrever nessas poucas linhas, mas uma coisa eu posso falar.  Nosso filho já havia nascido, só nos encontramos.

Não perca tempo, pois seu filho já pode ter nascido e está esperando você ir encontrá-lo.

E que pela intercessão de Santa Gianna possamos ter a graça que precisamos para formar uma família e ser fiel no amor e na vida humana. Santa Gianna Rogai por nós.

Família Guimarães

Evandro, Raquel, Wallace Lucas e Alice